Crítica e Análise Fílmica – um guia prático pela professora Cyntia Calhado

Para os entusiastas de cinema, adentrar o mundo das críticas e análises fílmicas pode ser desafiador. Pensando em quem deseja redigir bons textos entrevistamos a professora Cyntia Gomes Calhado, que nos ajudou com conhecimentos e dicas valiosas para os futuros críticos e pesquisadores de cinema.

Cyntia é jornalista, crítica, curadora, pesquisadora e professora do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM-SP. Autora do livro Intensidades da imagem: experiência estética no cinema – análises críticas a partir de Walter Salles (Editora Fi, 2021).  Sim, crítica e análise são textos distintos. A principal diferença reside na pessoalidade do texto. A crítica, com um olhar opinativo, insere o filme dentro de um conjunto de outros (mesmo gênero, nacionalidade, contexto), tendo, assim, uma visão ampla do filme e o objetivo de contextualizar e identificar aspectos para comprovar a sua tese. Já a análise procura destrinchar seus aspectos técnicos (direção de fotografia, roteiro, direção), ou apenas um aspecto, a fim de tornar claro os procedimentos da produção. 

Seguem as dicas:

Evitando erros comuns  

Construa o seu repertório para escrever críticas considerando o contexto daquela obra (sociocultural, histórico, de produção, etc) e não supervalorizar nenhum filme – saiba distinguir seu gosto pessoal do que é bom no filme. Para a análise, trabalhe o seu olhar objetivo que analisará os elementos e procedimentos artísticos e técnicos empregados, sem emitir opinião. 

Conhecimento como alicerce  

Para embasar ambos os textos, é importante ter conhecimentos técnicos de audiovisual, além de noções de psicologia, sociologia e história. Deste modo, conseguirá contextualizar o tema e assunto do filme.

Quando estiver assistindo  

Em um primeiro momento, assista ao filme sem um olhar técnico, apenas vivencie as emoções. Depois, separe o que é seu e o que é do filme (se o tema te agrada, se a abordagem do diretor te interessa) e assista-o novamente. Para a crítica, reassista com um olhar técnico. Para a análise, escolha apenas uma área para observar (som, direção, fotografia), anote frame a frame para poder argumentar sobre determinados aspectos.

Referências e Inspirações

A professora Cyntia Calhado também compartilhou conosco profissionais para acompanharmos e aprendermos com: 

Críticos de Cinema:  

  • Inácio Araújo, Guilherme Genestreti – Folha de S. Paulo;
  • Luiz Zanin Oricchio, Flávia Guerra – O Estado de S. Paulo; 
  • Bruno Carmelo, Arthur Tuoto – Críticos independentes;
  • Mark Cousins – Crítico e realizador inglês.

Pesquisador de Cinema/Acadêmico: 

  • – Luiz Carlos Oliveira Jr.  

Elementos essenciais  

Uma boa crítica contextualiza o enredo e identifica se o filme trata de um fenômeno específico, pois chegar ao tema do filme é um exercício crítico. Também, sabe destacar os pontos fortes do filme – direção de fotografia, efeitos, roteiro – e os pontos que poderiam ter sido melhor desenvolvidos. Já a análise, deve ter por base muita pesquisa e pouca dedução. Essa pesquisa deve envolver o contexto de realização do filme: quem foram os técnicos envolvidos (converse com eles, se possível), as entrevistas com a equipe, processo de criação, limitações de todos os tipos, ideias iniciais que tiveram que ser abandonadas, orçamento, etc. Tente chegar o mais próximo do que foi decidido pelos chefes de departamento junto com suas equipes.

O valor de saber criticar e analisar  

Ao escrever sobre filmes, apuramos o nosso senso crítico, o que nos ajuda a ter uma visão analítica sobre os nossos próprios filmes. Ao analisá-los, temos uma visão mais ampla do audiovisual – conseguimos destacar os diversos departamentos e como eles se relacionam- e, dessa forma, perceber outros aspectos do filme, como características estéticas de obras de certa região, ou momento histórico.

Originalidade e voz pessoal  

Cada geração tem um certo olhar para a experiência. O olhar pessoal amadurece e descobrimos a nossa própria voz à medida que escrevemos mais críticas. Já a análise, é mais técnica, é como uma decomposição do filme para entender como foi a sua produção.

Entrevista e produção de texto: Isabella Telles e Giulia Guedes.

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